terça-feira, 31 de março de 2009

Ele escreve, eu escrevo escrevemos, ambos todos, por acharmos que temos algo a dizer, para desabafar, para expor, para simplesmente por algo para fora...verdades racionais e manipuladas, mentiras sinceras, realidades, ficções, não importa, esta tudo impresso, em papel virtual.
Escrevemos angustias, felicidades de todos os tipos, todos os sentimentos, acontecimentos, relacionamentos, mais a troco do que? Ainda não sei, mais continuo perguntando.

Ele subiu as escadas, velhas e de madeira, em um prédio com paredes mais do que umidas, verdes, mais daquelas de dois tons, a madeira gritava no silêncio de sua subida.
Viu aquele capacho amarelo com listras brancas e azuis de juta e sisal, acabado, como tudo o que é feito a mão nos dias de hj, só podia ser ali.

Escrevemos coisas críveis, incriveis ou simplesmente desacreditadas, falamos de passados, amores, bonecas, almoços, velhos e-mails perdidos em poeira, coisas sérias e um bom pedaço de besteiras.
Mais sempre falamos o que queremos, mesmo não sabendo ao certo, sempre falamos da vida, e quem não quer a vida? Eu quero a vida!!! , ela é boa pra caralho.

Pensou em bater, mais ficou ali parado olhando o 33 de acrilico pendurado na porta, bem acima daquela mandala branca, que contrastava com a porta vermelha, o cheiro de sua anciedade lhe entrava nas narinas como cocaina barata de uma favela, um cheiro amargo, e cheio de impurezas. Tomou coragem e resolveu bater a porta.

Fazemos exercicios, mentais, notas as quais não nos lembrariamos mais, sem o seu devido registro, e não só para nós, senão não teria sentido, acendemos velas, no escuro para poder enxergar, nossos próprios pensamentos positivos ou não, em meio a Babilônia de hoje acendemos velas para podermos ver nosso caminho durante o dia, quando vemos uma casa em meio a uma montanha, e de sua chaminé saindo fumaça, sentimos que ali a fogo e luz, que são símbolos da vida.

Sentia o cheiro de torta de frango, saindo por debaixo da porta, imaginou que aproveitaria para almoçar.
Ela pergunta quem está a porta.
- Carmem. Sou eu, Nicolau!
....e começa a falar de que está arrependido, pelo que fez, que não deveria ter quebrado aquele vaso antigo de sua avó, pelo menos não em sua cabeça.
Enquanto isso ela o deixou falando sozinho, com a testa grudada a porta, entrou para dentro da sala, vasculhando uma tajer antiga dos anos 40, onde havia mandado um marcineiro fazer um compartimento falso em uma das gavetas. Achou o que procurava, o seu 38 Taurus RT889, com cano de 4" e 6 tiros.
Chegou a porta, ele ainda estava falando chorando se lamentando, ela o ficou fitando pelo olho magico, dourado e todo descascado.

Enfim, uma ferramenta, boa que pode ser usada, das mais diversas maneiras , por todos os tipos de pessoas, de uma criança que já não bebe Coca-Cola, como por uma senhora de 90 anos, que ainda espera o Papai Noel, não importa, o que importa é que seja usada, como um pincel, desenhando um quadro sem tinta, como um torno dando acabamento a peças, ou como suas próprias mãos na argila, esculpindo a sua própria mascara.

Quando ele terminou, lhe perguntando se ela o perdoaria, ela disparou sem nem abrir a porta na altura de seu estomago, com um pequeno sorriso nos lábios, disse que não, ao morto, voltou para a cozinha, e pegou um enorme pedaço da torta que havia acabado de fazer.....


Ao som de Deus Lhe Pague do Chico Buarque, mais em duas VRS. Elis Regina, e VRS Claro que é Rock Pitty, Marcelo Nova e Frejat

Um comentário:

  1. ESPETACULAR!
    Escrever, escrever, escrever... ferramenta, comunicação, entretenimento, discussão, educação! Ao contrário de mim, você está muito bem inspirado e usando muito bem esse dom!
    beijo.

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